domingo, 8 de abril de 2012

Sacrossanta ignorância

Foi-se o tempo em que a Semana Santa era uma festa religiosa. Hoje é um evento social. E muito rentável. 
De maior país católico do mundo, o Brasil transformou-se na maior panaceia religiosa do mundo com igrejas para todos os gostos, bolsos e pecados.
Essas igrejas estão sempre abrindo mais um "templo" nas esquinas das cidades a cada semana, aproveitando supermercados fechados, galpões abandonados, ou até mesmo pequenas garagens desocupadas. 
E cada uma dessas igrejas toma para si um novo tipo de atrativo para os fieis: o show artístico. Usam-se os mesmos estilos musicais que fazem sucesso e mudam-se as letras, com a colocação de um bocado de "Jesus", "aleluias" e "senhor" e pronto, está tudo transformado em música religiosa que louva aos deuses desses incautos fieis. 
As festas profanas são ojerizadas e condenadas pelos ditos "pastores de ovelhas" por serem consideradas como manifestações "do cão", mas a estrutura que eles usam para a louvação do "senhor" é a mesma: trios elétricos, bandas, muitas luzes, muito som alto, com cantores e cantoras com figurinos especiais, todo mundo "tirando o pé do chão" e gritando aleluia...
Antigamente a Semana Santa era época de reflexão e indulgência. As pessoas iam às igrejas para rezar e ouviam músicas sacras. Hoje a Igreja Católica já perdeu a primazia e a força, e ela mesma já enveredou para as manifestações artísticas para ver se segura seus fieis nas suas hostes, cantando musiquinhas especialmente preparadas e cantadas por padres shows-man. Dessa forma as músicas sacras de verdade foram relegadas aos arquivos e gavetas de partituras.
Mestres da música como Bach, Haendel, Haydn, Mozart, Vivaldi, Palestrina e outros tantos, e até o brasileiríssimo padre Nunes Garcia não são mais ouvidos. Nem poderiam ser, afinal o repertório deles não se coaduna com as atrações designadas para os fiéis nos shows programados para o feriado da Semana Santa, que não é mais tão santo assim. Brega, forró, MPB de qualidade duvidosa (mesmo que fosse boa), sertanejos e por aí a fora é o que o povo "quer" ouvir. De sacro mesmo só umas manifestações teatrais que mostram os últimos dias de Jesus, as famosas "paixões". Aos poucos o povo é levado a pensar que assistir a um "espetáculo" desses faz parte de um roteiro e de uma manifestação religiosa,  e que conta como  atividade religiosa. Não se dão conta nem da tietagem que leva milhares de fãs para ver esse ou aquele ator de televisão nos espetáculos mais famosos. 
Mas para que se preocupar com sofrimentos e orações? O que importa mesmo é se divertir, afinal a vida é dura. Às favas com sacrifícios e coisas parecidas. Jesus já foi crucificado para nos livrar desse mal... Amém.
Dentro das casas o que vale é o bacalhau e o ovo de páscoa. 
Por essas e por outras, Jesus deve estar se contorcendo na cruz e dizendo: "perdoa-os, pai; eles não sabem o que fazem".