Da vida fazem parte muitas situações. Uma delas, extrema, é a morte.
Dia desses aconteceu.
Lá estava eu, em pleno velório, ouvindo preleções acerca do defunto e da vida.
De como nós, vivos, lidamos com a nossa etapa derradeira.
Na verdade, de como nós não lidamos com ela.
Dela não queremos nem saber, e tentamos, a tudo, evitá-la. Não se fala, nem se ouve sobre ela.
Dizemos que a morte é triste e dolorosa, traiçoeira, pesada, sombria, ruim, fria, e tantos outros adjetivos que aprendemos ao longo de nossas vidas.
Não devíamos agir assim afinal a vida é uma corrida para a morte
E condição sine qua non para chegar à morte é estar vivo.
Achamos que a morte é ruim, quando, na verdade deveríamos é achar bom poder morrer, pois só nós, os vivos, temos esse privilégio.
Dói termos que nos afastar de pessoas caras que conviveram conosco e dividiram alguns tantos momentos nessa caminhada ao túmulo.
A dor evoca o choro, mas chorar a separação é uma coisa, reclamar da morte é outra, bem diferente.
A dor maior é causada pela expectativa nunca cumprida de que, se não fosse a morte chegada, a vida dali em diante iria ser vivida para se conseguir realizar aquele sonho carregado durante toda a existência, e até então não colocado em prática.
Apesar do desejo ter sido falado para todos, nada foi feito. A vida é vivida no cotidiano que nos empurra ladeira abaixo, e não nos permite saber que estamos vivos. As prioridades matam os desejos e os sonhos, adiando-os para um amanhã incerto. E é a morte quem paga a conta, sendo responsabilizada pela não realização desses sonhos.
Tolos somos todos os que acreditamos que a morte dói; que acreditamos que podemos ser eternos, mesmo convivendo com as reclamações (estas sim, eternas); que acreditamos que a morte de um conhecido nos fará diferentes amanhã.
Qual nada.
Depois da última pá de cal, nossos sentimentos de estranheza perante a morte se dobram, se guardam e voltam para o armário de nossas vidas de onde só sairão no próximo funeral.
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